terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A dura coreografia de um dia como os outros - Paulo Brabo

É com toda a relutância (e por certo para grande prejuízo da imagem de sofisticação que penso às vezes a transmitir), que devo confessar que sim, curto o Natal – não só o Natal de Jesus, mas também aquele das tradições, das canções, das luzinhas, das diferentes culturas e da conturbada história do ocidente (não tenho como aprovar, claro, o chão comercialismo da coisa toda, mas o Natal está longe de ser a única coisa bonita arruinada pelo capitalismo, ou a mais importante). Curto o Natal talvez mais do que o cidadão comum, e certamente muito mais do que deixaram entrever a severidade e o estudado cinismo das vezes em que me manifestei aqui sobre o assunto; se me contive foi para tentar evitar parecer ainda mais brega do que já demonstrei ser.
Mas entendo também, e queria apenas dizer isso, que muito do que o Natal tem de belo faz com que tenha também algo de forçado, de artificial e – por vezes – de terrível. O maior problema do Natal (e falo da festa, que é o que existe) não é que ninguém se lembra de Jesus, ou que devesse lembrar, ou que tentemos fazer com que a beleza da festa persista sem a necessária memória da sua origem. Essas, creia-me, são tecnicalidades. O problema é que, justamente porque não há quem não entenda que esta deveria ser uma festa de alegria e de luz e de boa vontade, o Natal acaba exigindo de todos uma coreografia que a realidade nem sempre se mostra elástica o bastante para fornecer. A inadequação dos nossos esforços e do próprio resultado acaba com frequência transformando o que deveria ser belo e tranquilo em peso e horror – numa vida que já os tem tantos.
Inconscientemente todos sacamos que o Natal, para que seja perfeito (e quem não sonhou com um Natal perfeito?) requer ajustes por vezes muito severos na crueza da realidade. E não falo de encontrar o presente certo para a Mabel, esposa do Renan, que você tirou no amigo secreto, mas de coreografar a vida de modo a que tudo esteja bem, tudo esteja aceitável, todos estejam falando com todos, ninguém se sinta esquecido, ninguém se sinta ofendido, ninguém beba demais, ninguém levante aquele assunto constrangedor, aquele tio não comece a contar aquelas piadas.
Em especial, sentimo-nos obrigados a coreografar a vida de modo a que nós mesmos estejamos bem – afinal de contas, ninguém quer ter de representar o constrangimento de estar triste na noite de Natal. Bêbados tudo bem, emputecidos sim, cínicos na maior parte das vezes, mas estar triste numa noite de luz é uma gafe que preferiríamos não ter de associar a nós mesmos. O próprio peso positivo da festa nos constrange a coreografar a vida de modo a que estejamos de bem com a vida naquela data, porque naquele dia nada pode dar errado, porque na festa do ano nada pode estar sujeito a contingências: o presente certo deve estar aguardando o destino seguro no banco de trás de cada um, as provisões tem de estar aguardando enfileiradas na cozinha, as roupas passadas e o cabelo penteado, o peru no forno, o zíper fechado e o sorriso no rosto.
O problema, claro, é que a vida não é um comercial de tender, e não há como coreografar as contingências para fora da vida. Não há como manufaturar em um dia a perfeição que nunca houve o ano inteiro, e que jamais haverá. Há o filho distante, há a doença do amigo, há nossa tendência à vanglória, há a desilusão, a morte, a rejeição, a fome, a desigualdade, a guerra de longe e de perto e há as inadequações de todos e de cada um ao nosso redor, muito facilmente refletidas e amplificadas pelas nossas. Tudo que resta, frequentemente, é a distância entre a realidade e as nossas boas intenções, entre o que a festa foi e o que deveria ser.
O Natal é o grande peso da cristandade: a falsa culpa e a frustração patrocinadas com as melhores das intenções.
E trata-se do peso peculiar a todas as instituições, que tentam por natureza aprisionar numa formalidade e adequar a uma casca uma beleza que não se deixa absolutamente aprisionar.
O paradoxal (porque tudo é paradoxal) é que a ocasião original do nascimento de Jesus é história definida apenas por contingências, existindo por inteiro debaixo do signo do inesperado e do imperfeito. É a história de gente conseguindo reconstruir suas expectativas de modo a encontrar beleza no que poderia ser facilmente considerado terrível: uma gravidez não esperada, uma desilusão amorosa, uma viagem cansativa, uma cidade lotada e um nascimento sem um mínimo de dignidade.
Deixo esta canção de Natal: Deus conosco é o Deus teimoso do não-coreografado. O Natal é dança que só se oferece a pés despreparados que acontecem de ouvir nas estrelas os anjos cantando.
Então, pelo amor de Deus, abra mão da coreografia que estou tentando apenas viver eu mesmo, aqui do meu lado. Se Jesus não nascer num dia qualquer não é na noite dos milagres que ele vai querer dar as caras.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"AOS FILHOS DE GANDHI MORRENDO DE FOME. AOS FILHOS DE CRISTO CADA VEZ MAIS RICOS ..." Cazuza, Só se for a dois.

http://www.youtube.com/watch?v=zUxZnMLd9t0&feature=related

"AOS FILHOS DE GANDHI MORRENDO DE FOME. AOS FILHOS DE CRISTO CADA VEZ MAIS RICOS ..." Cazuza, Só se for a dois.

http://www.youtube.com/watch?v=zUxZnMLd9t0&feature=related

Prostitutos cultuais



 Eu estava tentando encontrar um adjetivo para qualificar os atuais cantores e pregadores que cobram elevadas somas em dinheiro para pregar ou cantar nas igrejas e em conferências promovidas por evangélicos, e achei que “mercador da fé” não é um adjetivo apropriado, porque é simples demais para nominar tais pessoas. Pois bem. Vejo esses exploradores da boa-fé evangélica como prostitutos cultuais – que é a tradução da versão atualizada – para os que se prostituíam junto aos templos pagãos e que depois passaram a se prostituir diante do templo do Senhor em Jerusalém. Porque os prostitutos (as) cultuais mencionados na Bíblia exploravam os que se dirigiam ao templo para adoração oferecendo-lhes um pouco de orgia – orgia sexual revestida de espiritualidade, como alguns desses a que me refiro que falam línguas, profetizam, oram pelos enfermos, são místicos e super espirituais. .. Mas orgiofantes (como os sacerdotes que prestavam culto a Dionísio).

Os prostitutos e prostitutas cultuais, comuns nos templos pagãos passaram a conviver com os adoradores junto ao templo de Jerusalém, indicativo de uma deformação espiritual da nação de Israel. Não estou afirmando que é comum tais pessoas se prostituir de verdade, em orgias sexuais; estou afirmando, isto sim, que sempre que uma pessoa se afasta de Deus, comete prostituição com outros deuses – fato mencionado pelo próprio Deus em várias passagens do Antigo Testamento. Em Ezequiel 16 ele compara Israel a uma menina, que é cuidada por Deus, adornada e preparada para ser esposa, mas se prostitui com os povos vizinhos.

Deus se antecipou ao que poderia acontecer e recomendou a Moisés: “Das filhas de Israel não haverá quem se prostitua no serviço do templo, nem dos filhos de Israel haverá quem o faça... Não trarás salário de prostituição nem preço de sodomita à Casa do Senhor, teu Deus (Dt 23.17-18). O que se vê hoje no Brasil é uma orgia espiritual, uma masturbação coletiva praticada por cantores e cantoras, pregadores e pregadoras, que não conseguiram fazer sucesso no mundo e encontraram na igreja um filão de negócio; o caminho para o enriquecimento à custa da espiritualidade dos irmãos.

Imagine o Lázaro da Bíblia, que Jesus ressuscitou dos mortos gravando seu cd e saindo pelo mundo a pregar nas igrejas, usando os recursos para comprar bens e imóveis em Atenas, Roma e Jerusalém. Imagine Dorcas, relatando sua ressurreição e insinuando aos irmãos por onde pregava que precisava de dinheiro para comprar máquinas de costura a fim de ajudar os pobres com maior eficácia, lucrando com a bênção alcançada. Eles seriam excluídos do rol de membros do céu pelos apóstolos. Pois sei que esses excrementos espirituais – e não há palavra melhor para descrever tais pessoas – cobram preços exorbitantes para pregar e cantar. Eu estava numa cidade pregando o evangelho e em várias cidades daquele Estado os irmãos se mobilizavam para ouvir o ex (que deve ter fracassado no mundo) cujo preço varia de 20 a 35 mil reais por apresentação. Este cantor que explora a espiritualidade do povo deve ganhar, pelo menos, com a agenda cheia em torno de cem mil reais por semana! Sim, porque fazem sucessos os ex-, sejam ex de quaisquer espécies. Ex que tocou na famosa banda do mundo; ex- que se prostituía com drogas, mas agora se prostitui com dinheiro. Prostituem-se com a fé. Sim, porque quais prostitutos cultuais do AT usam da espiritualidade para fazer orgia com o povo com o fim de levar o povo a se alegrar, enquanto eles ficam ricos.

Uma denominação pentecostal nutriu, alimentou e criou um pregador que cobra o exorbitante preço de quinze mil reais por pregação e nunca tomou uma atitude corretiva e disciplinar quanto a seu enriquecimento e vida pessoal; ao contrário, alimenta o sucesso desse mercador de dons. Balaão se sentiria envergonhado!

Assim, quando viajo pelo Brasil sinto no ar o odor fétido que eles deixam por onde passam; o odor da prostituição espiritual, o cheiro nauseabundo que costumam exalar os espiritualmente mortos. Que se prostituem espiritualmente e que levem pastores, líderes e povo à prostituição com eles é inegável, e não é de se duvidar de que se prostituam literalmente em seus confortáveis quartos de hotel. Pregadores e cantores que fazem exigências incomuns; que não aceitam fazer uma refeição na casa de irmãos; apenas em restaurantes que servem a La Carte. Que não se contentam com os bons hotéis e se não houver os melhores, recusam-se participar de eventos a menos que suas exigências sejam atendidas.

Os culpados são os líderes que atraídos pela ganância financeira esperam obter lucros com os gananciosos. Certamente porque muitos pastores, apóstolos e líderes se prostituíram espiritualmente, empolgados com as riquezas deste mundo, sonhando com mansões no litoral brasileiro e nas famosas cidades dos Estados Unidos.

Que posso dizer? Afirmar que alguns desses pastores que apóiam tais cantores e pregadores, juntamente com estes sejam descendentes de Balaão – que se prostituiu e usou de seus dons para ensinar Balaque a armar ciladas para os filhos de Israel – seria ofender o profeta do Antigo Testamento, que por seu pecado foi morto por Josué. Quem sabe possuem o DNA de Judas, ou são da mesma linhagem espiritual que vendem o nosso Senhor em troca das benesses de Mamom. Pedro e Judas descreveram tais cantores, pregadores e pastores com adjetivos pouco recomendáveis, afirmando que estes “andam em imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores...

Considerando como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia, quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam junto convosco; tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado, engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos; abandonando o reto caminho, se extraviaram, seguindo pelo caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça... Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas”
Por mistificações o apóstolo está se referindo aos que usam dos dons espirituais para se sobrepor aos demais; eles têm dons, são místicos e falam como se uma nuvem de transcendência divina repousasse sobre eles.

Faz-se necessária uma limpeza na igreja, a Casa de Deus, como fizeram Asa e Josafá. Asa tirou de cena sua própria mãe e “removeu os prostitutos cultuais” que usavam o templo como local de prostituição. Josafá ainda precisou intensificar a reforma, porque, de tempos em tempos os aproveitadores da boa vontade do povo; os exploradores da espiritualidade das pessoas, tais como eram os filhos de Eli aparecem na igreja de Deus (1 Rs 15.12; 22.47).

Uma igreja rameira serve de alcova para os exploradores da espiritualidade do povo. E Deus haverá de limpar sua igreja.